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Zelador de colégio pede demissão após receber bilhete racista: 'Nojo da sua raça'

Empresas são condenadas por racismo no ambiente de trabalho, em Goiás Um bilhete com frases racistas levou o zelador Almiro Martins, de 21 anos, natural de Lu...

Zelador de colégio pede demissão após receber bilhete racista: 'Nojo da sua raça'
Zelador de colégio pede demissão após receber bilhete racista: 'Nojo da sua raça' (Foto: Reprodução)

Empresas são condenadas por racismo no ambiente de trabalho, em Goiás Um bilhete com frases racistas levou o zelador Almiro Martins, de 21 anos, natural de Luanda, a pedir demissão do colégio onde trabalhava há poucos meses, em Anápolis, a 55 km de Goiânia. A mensagem dizia: “Não sei você, mas eu tenho nojo da sua raça. Preto brasileiro é diferente. Vai embora, africano de merda.” O caso ocorreu na última terça-feira (25) e marcou profundamente o jovem, que havia sido promovido duas vezes em menos de cinco meses por causa da dedicação ao trabalho. Segundo a esposa dele, Ruth Rocha, professora, o bilhete não apenas interrompeu a rotina do casal, mas mexeu de forma direta com a autoestima do marido. ✅ Clique e siga o canal do g1 GO no WhatsApp Bilhete racista deixado no vestiário onde Almiro trabalhava dizia frases como “tenho nojo da sua raça” e “vai embora, africano de merda”. Caso foi denunciado à polícia Reprodução/Arquivo pessoal de Ruth Rocha “Isso impactou diretamente a autoestima dele. Vou repetir uma frase que ele mesmo disse: ‘No meu país eu não precisava me preocupar com a minha cor, agora eu preciso’”, contou Ruth. Ela afirma que o marido evita se expor, mas decidiu registrar um boletim de ocorrência porque acredita que o caso precisa vir a público. “É importante que a população entenda que o racismo ainda existe em pleno 2026. A falta de informação, empatia e amor ao próximo alimenta esse tipo de crime.” Ruth explicou que estava na instituição no momento em que Almiro encontrou o bilhete. Ela relatou que o marido telefonava para um irmão que mora em Portugal quando percebeu a mensagem. “Eu chorei junto com ele. Foi um dos dias mais difíceis. Pouco depois eu precisava entrar em sala para dar aula, mas a situação deixou a gente sem chão.” LEIA TAMBÉM: Casos de racismo mais do que triplicaram em Goiás e estado tem o maior crescimento do país, diz Anuário de Segurança Enfermeira denuncia que sofreu racismo de diarista após reclamar de faxina: 'Chata porque é de cor' Radialista é indiciado por racismo após enviar áudios ofendendo colega de trabalho com comentários sobre peso e raça; ouça Situações anteriores e ambiente hostil Segundo Paulino Henjengo, irmão de Almiro, o jovem já relatava situações estranhas no ambiente de trabalho. Ele contou que tentaram associar o jovem a supostos furtos e até à acusação de ter colocado sabão na comida de alguém. Almiro acreditava que o incômodo de colegas poderia estar ligado à boa relação que ele desenvolveu com o proprietário da escola. Ele havia recebido aumentos sucessivos e era frequentemente elogiado pelo supervisor. “As pessoas começaram a olhar para ele com maldade”, relatou Paulino. Após encontrar o bilhete, Almiro decidiu deixar o emprego imediatamente. A família insistiu para que ele registrasse o caso, para evitar que a pessoa responsável repetisse a agressão contra outros trabalhadores negros. O boletim de ocorrência foi registrado ainda no mesmo dia, e o casal deve levar o caso à delegacia especializada em crimes de racismo, em Goiânia. Almiro Martins, zelador angolano de 21 anos, e a noiva Ruth Rocha. Ele deixou o emprego após receber o bilhete racista; casal denuncia impacto emocional e pede justiça Reprodução/Instagram de Almiro Martins Posicionamento da escola O sócio-proprietário do colégio, Ivan de Abreu Júnior, publicou um vídeo afirmando que o crime ocorreu em um “ponto cego” da instituição e classificou o episódio como “covarde”. Ele disse que mantém relação de amizade com Almiro, que já esteve em sua casa e participou de momentos de confraternização com sua família. “Minha maior preocupação é com o ser humano Almiro. Sempre tratei ele como amigo. Vamos descobrir quem fez essa covardia”, declarou o proprietário. ‘Todo ser humano é digno de respeito’ Ruth reforça que a repercussão do caso tem sido essencial para mostrar que situações como a vivida por seu marido seguem presentes no cotidiano brasileiro. Ela recebeu mensagens de apoio de familiares, alunos, colegas e pessoas desconhecidas. “A verdade é que muitas pessoas não têm dimensão do que é o racismo. Falta informação, orientação nas escolas, nas universidades, nas igrejas, na mídia. Falta empatia. No final das contas, somos todos iguais”, afirmou. 📱 Veja outras notícias da região no g1 Goiás. VÍDEOS: últimas notícias de Goiás