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Tarifaço continua para parte do agro: café solúvel, uva, mel e pescados ainda sofrem taxa de 50% nos EUA

Oliver Stucker analisa EUA zerarem tarifaço sobre produto do Brasil Nem todo o agro pode ter o "presente do Natal" do fim do tarifaço. Produtos brasileiros co...

Tarifaço continua para parte do agro: café solúvel, uva, mel e pescados ainda sofrem taxa de 50% nos EUA
Tarifaço continua para parte do agro: café solúvel, uva, mel e pescados ainda sofrem taxa de 50% nos EUA (Foto: Reprodução)

Oliver Stucker analisa EUA zerarem tarifaço sobre produto do Brasil Nem todo o agro pode ter o "presente do Natal" do fim do tarifaço. Produtos brasileiros como o café solúvel, a uva, o mel e os pescados ainda estão sendo taxados em 50% nos Estados Unidos. Isso porque eles não foram contemplados pelas duas decisões do governo americano, publicadas neste mês, que isentou centenas de produtos de tarifas adicionais. A primeira delas, no dia 14, retirou a tarifa recíproca de 10%, imposta em abril, para cerca de 200 produtos alimentícios de diversos países. A segunda, na última quinta-feira (20), foi direcionada ao Brasil, e suspendeu a sobretaxa de 40%, anunciada em julho, para mais de 200 produtos, que foram acrescentados à lista anterior de quase 700 exceções ao tarifaço. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça As duas medidas trouxeram um grande alívio para o agro, já que tiraram da taxação produtos de peso da exportação nacional, como o café em grão e a carne bovina, que são, respectivamente, o segundo e o terceiro itens mais vendidos pelo setor aos EUA, atrás dos produtos florestais. Apesar de o café solúvel, a uva, os pescados e o mel não terem o mesmo peso que o café em grão e a carne bovina no total das exportações do agro, são setores que têm os EUA como um mercado relevante para a sua atividade. A seguir, veja a situação de cada um deles. Café solúvel A indústria brasileira ainda não conseguiu entender por que o café solúvel não foi contemplado pelas decisões dos EUA, afirma o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo Lima. Em 2024, as vendas de solúvel para os EUA representaram 10% de toda a exportação da indústria brasileira de café. O restante da exportação é de café em grão que, agora, está isenta da tarifa. Lima conta que o café solúvel brasileiro sempre teve uma forte presença nos supermercados dos EUA. No ano passado, por exemplo, 38% do que os americanos importaram teve origem no Brasil, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, citados por Lima. As exportações brasileiras para o país começaram nos anos de 1960 e, desde então, os americanos se mantiveram como o principal destino do solúvel nacional, o que mudou após o tarifaço. "A Rússia, que tradicionalmente sempre foi o segundo colocado, passou para primeiro. Algo inédito", diz Lima, detalhando que isso aconteceu a partir de julho, quando Trump impôs a taxa adicional de 40%. Desde então, o volume exportado para os EUA nos meses de agosto, setembro e outubro caiu cerca de 50%, quando comparado a igual período de 2024. "O risco de perda de mercado nas gôndolas de supermercado nos EUA aumenta a cada dia", diz Lima. "O que a gente sabe, pelos nossos parceiros, é que os EUA ainda estão queimando estoques remanescentes, na esperança que a tarifa caia. Mas, à medida que for apertando, eles buscarão fornecedores alternativos, como México, Colômbia, Vietnã e Europa", afirma. Lima diz que a Abics e o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) continuam negociando a derrubada da tarifa com os governos do Brasil e dos EUA e empresas americanas. Na sexta-feira (21), o Cecafé disse ao g1 que o setor vai se reunir com o Itamaraty no dia 28 de novembro, e com os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento (Mdic) entre 27 e 28. Saiba também: Preços globais do café despencam após Trump retirar tarifas sobre Brasil Uva A uva é uma das frutas que ainda está sendo taxada em 50% nos Estados Unidos. Em 2024, o país foi o destino de 12% todas as frutas frescas exportadas pelo Brasil. Nesse período, somente os exportadores de uva faturaram US$ 41,5 milhões, segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Segundo o AgroStat, plataforma de dados de exportação do Ministério da Agricultura, 23% do total de uvas vendidas para o exterior em 2024 foram para os EUA. Entre outubro e novembro, a comercialização de uvas para os EUA caiu 73% na comparação com o mesmo período de 2024, informou o diretor-executivo da Abrafrutas, Eduardo Brandão. Apesar de ter uma categoria de “frutas frescas” na lista de exceções publicadas pela Casa Branca, a uva ficou de fora dela, segundo confirmou a Abrafrutas com a embaixada. Para o diretor-executivo, essa exclusão acontece porque os EUA são grandes produtores de uva e devem ter uma supersafra no próximo ano. Além disso, eles também importam muito do Chile e do Peru. Entretanto, Brandão afirma que os cachos que deixaram de ir para os EUA já foram realocados para países da Europa e da América do Sul. O maior prejuízo, portanto, foi que, com menos demanda, o poder de negociação para decidir o preço caiu, aponta o diretor. Mel Além do tarifaço de 50%, o mel brasileiro já estava sujeito à uma taxa de importação de 8,04% nos EUA, conta Renato Azevedo, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel). Ele conta que as negociações com o governo brasileiro e com os EUA continuam, mas que a situação é preocupante. "Provavelmente vão continuar comprando, mas terá uma queda no preço, isso é certeza, só não sabemos de quanto", diz Sitônio Dantas, diretor da Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis), em Picos (Piauí). Ele conta que todos os contratos com os EUA estão garantidos até dezembro de 2025. No entanto, há preocupação sobre a renovação dos acordos. "Era pra gente estar renovando [os contratos], mas até agora nada. Ele dizem que vão continuar, mas ainda não temos confirmação", disse. De acordo com o AgroStat, os EUA representaram quase 80% de todas as exportações de mel natural do Brasil em 2024. Leia também: Entenda por que nem todos os produtos brasileiros ficaram livres das taxas Pescados A exclusão dos pescados das isenções do tarifaço também frustrou o setor, disse o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo, na sexta-feira (20). “Não houve evolução alguma para o pescado, e isso mostra que essa pauta não tem recebido a priorização necessária por parte do governo brasileiro. O setor gera empregos, movimenta a economia e tem enorme potencial de expansão, mas continua invisível nas negociações com os Estados Unidos.” Segundo a associação, as vendas de pescados para os Estados Unidos geram US$ 300 milhões por ano para o setor. Os norte-americanos representaram quase metade de todas as exportações do alimento em 2024, aponta o AgroStat. Segundo Lobo, a atividade tem um peso importante no sustento de comunidades costeiras e ribeirinhas, com forte impacto em pequenas e médias empresas, "justamente onde a sensibilidade às tarifas é maior" Ele afirma que é urgente recolocar o pescado brasileiro no radar das negociações bilaterais. “Precisamos de reciprocidade e de estratégia. A cada rodada de negociação em que o pescado é esquecido, perdemos espaço para concorrentes internacionais. O mercado americano é vital para o Brasil e a ausência de avanços é um sinal claro de que estamos ficando para trás.” Tarifaço continua para parte do agro: café solúvel, uva, mel e pescados ainda sofrem taxa de 50% nos EUA g1 Veja mais: Navio que vaga há meses tenta voltar ao Uruguai com vacas e bezerros à beira da morte Brasil sem tilápia? O que significa a inclusão do peixe em lista de espécies invasoras