Após 24 feminicídios em 2025, famílias esperam por julgamentos na região de Campinas
Região de Campinas registrou 24 feminicídios em 2025; vítima mais nova tinha 15 anos Arquivo pessoal Ao longo de 2025, a região de Campinas (SP) contabilizo...
Região de Campinas registrou 24 feminicídios em 2025; vítima mais nova tinha 15 anos Arquivo pessoal Ao longo de 2025, a região de Campinas (SP) contabilizou 24 casos de feminicídio em 10 municípios. Agora, as famílias das vítimas vivem a expectativa pelo julgamento dos responsáveis na Justiça, um processo que pode se arrastar por meses ou até anos. Um levantamento do g1 com base em reportagens e processos judiciais mostra que a maioria dos autores foram presos ou cometeram suicídio, e poucos processos chegaram à fase de julgamento. Os casos ocorreram principalmente dentro de casa e, na maioria das vezes, foram cometidos por companheiros ou ex-companheiros. A metrópole concentra o maior número de registros, seguida por Mogi Guaçu (SP) e Hortolândia (SP). Relembre, no infográfico abaixo, quem foram as vítimas. Avanço dos processos Entre os processos mais adiantados está o assassinato de Vanessa Soares da Silva Pereira, de 39 anos, ocorrido em janeiro, em Mogi Guaçu. O marido dela, Hugo Estevão Pereira, permanece preso, e o julgamento pelo Tribunal do Júri foi marcado para 6 de abril de 2026. Outro caso que caminha para o Júri é o de Jardilândia da Silva Nepomuceno, morta em fevereiro, em Paulínia (SP). O réu, José Fernando Joaquim Júnior, está preso, e o processo está na fase final de preparação, aguardando a marcação da data do julgamento. Já o feminicídio de Vitória Rosa de Oliveira, de 23 anos, ocorrido em janeiro, em Hortolândia, depende do julgamento de um recurso previsto para ocorrer virtualmente entre 26 de janeiro e 2 de fevereiro de 2026. Somente após essa etapa o caso poderá ter andamento. O que é feminicídio? Sob sigilo Há ainda os processos em fase inicial da ação penal. É o caso dos assassinatos de Regiane Ribeiro, em Artur Nogueira (SP); e Priscila Adelangela Moraes e Patrícia de Farias Bueno, ambos em Mogi Guaçu. Alguns processos tramitam sob sigilo, como os casos de Sandra Regina Mercadante, Lívia Emanuelle Meireles Florian e Camila Oliveira Silva, todos em Campinas. Detalhes sobre o andamento judicial não são divulgados. O único caso envolvendo autores adolescentes é o de Nicolly Fernanda Pogere, de 15 anos, em Hortolândia, cujo processo tramita sob sigilo. Dois menores apontados como responsáveis pelo assassinato foram apreendidos. Casos sem julgamento Em sete ocorrências, o autor do crime morreu, a maioria por suicídio logo após os assassinatos, impedindo o julgamento criminal. Isso aconteceu, por exemplo, nos casos de Samara dos Santos, em Itapira (SP); Estela Maris da Costa Vieira, em Monte Mor (SP); e Denise Tizo de Oliveira, em Campinas, grávida de oito meses quando foi morta. 'A vida da gente continua, a dela acabou' Familiares das vítimas relataram que, além da perda, precisam lidar com as mudanças na rotina e com a expectativa de que a justiça seja feita. Irmã de Priscila Adelangela Moraes, Gabriela afirma que o contato entre elas era frequente. “Sempre que possível a gente tava ali, a gente ligava uma pra outra, se precisasse, a gente tava sempre à disposição uma da outra”, disse. Após o crime, segundo ela, a família passou a se reunir com mais frequência na casa dos pais. “Virou uma necessidade nossa saber como eles estão, ver como minha mãe tá, ver como meu pai tá”, afirmou. “A minha mãe questiona muito como que ela não se defendeu. Meu pai também não entra na cabeça dele que a filha morreu dessa forma que morreu. [...] Eu perdi uma irmã, mas minha mãe perdeu uma filha, meu pai perdeu uma filha", lamentou. Priscila Adelangela Moraes, de 40 anos, vítima de feminicídio em Mogi Guaçu Reprodução/Redes sociais A filha de Priscila, hoje com 5 anos, sofre com a ausência da mãe. “A gente acha que criança não entende, mas entende. À noite é o que pega, porque ela chama demais pela Priscila. […] Na semana do falecimento da minha irmã, ela teve febre emocional de 40 graus”, contou. “Tudo muda. Eu penso assim, a vida da gente continua. A dela acabou. E a gente tem muita criança na nossa família. Então, por eles a gente tem que fazer algo. [...] A quantidade de feminicídio que a gente tá vendo dia após dia é absurda, as coisas precisam mudar", disse Gabriela. Em Campinas, a família de Lívia Emanuelle Meireles Florian, de 17 anos, também convive com as consequências do crime. A irmã, Ana Carolina Meireles, descreveu a adolescente como uma jovem conhecida no bairro. “Onde passava, era amiga de todo mundo”, disse. Segundo Ana Carolina, Lívia fazia planos para o futuro. “O sonho dela era morar sozinha. Então, quando surgiu essa oportunidade dela morar com ele, ela ficou muito animada e fez planos e planos, porque queria montar a casinha dela do jeitinho dela, queria comprar as coisinhas dela […] Ela queria tirar habilitação, fazer a festa de 18 anos”, relembrou. "A gente vai seguindo, continua a vida normal. A gente fica triste, olha as coisas e lembra, mas a gente tem que seguir, não tem o que fazer. Eu cuidando da minha mãe agora, que ela tem mais dois filhos também, a gente cuidando dela, e é isso. Sem muita vontade de seguir, mas tem que seguir", disse. Lívia Emanuelle Meireles Florian, de 17 anos, morreu após dois dias internada em Campinas (SP); ela foi baleada no rosto e ex-namorado é o principal suspeito do crime Reprodução VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas